
O que Fazer nos Momentos em que Não Sente Fé
Introdução
Todos passamos por períodos em que a fé parece distante. Você ora, mas não sente. Lê a Bíblia, mas não entende. Vai à igreja ou escuta uma pregação, mas nada toca o coração como antes.
Talvez você esteja exatamente assim agora — se perguntando: “O que fazer quando não sinto fé?”
Neste artigo, vamos falar sobre esse silêncio espiritual que tanto assusta, mas que também pode ser um convite divino. Um convite para aprofundar, ressignificar, reconstruir. Porque Deus não desaparece — Ele permanece, mesmo quando nosso coração não consegue perceber.
1. Primeiro: Entenda que isso é mais comum do que parece
Sentir que a fé “sumiu” é uma das experiências mais humanas da jornada espiritual — e não significa que você está distante de Deus. Na verdade, esses momentos de silêncio, vazio ou dúvida podem ser justamente um sinal de que você está passando por um processo de transição e amadurecimento espiritual.
É comum acreditar que a ausência de sentimentos fortes indica falha, pecado ou afastamento. Mas muitas vezes, o que está acontecendo é um convite divino para crescer, para mergulhar mais fundo, para aprender a amar a Deus não apenas pelo que Ele faz, mas por quem Ele é. A fé verdadeira se revela quando as emoções falham — porque ela não se baseia em sensações, mas em decisão.
As Escrituras estão repletas de testemunhos de pessoas que passaram por esse vale invisível. Davi clamava: “Até quando, Senhor, te esquecerás de mim?” Elias pediu para morrer em meio ao cansaço. Jó questionou a existência do sofrimento. Até Jesus, no Jardim do Getsêmani, suou sangue e disse: “Pai, por que me desamparaste?” Esses episódios mostram que até os mais íntimos de Deus viveram momentos de crise espiritual.
A grande verdade é: você não está sozinho(a). E não há vergonha nenhuma em sentir-se distante. O importante é continuar caminhando, mesmo quando os passos parecem vazios. A fé não é ausência de luta — é a escolha de continuar, apesar dela.
2. Dê nome ao que está sentindo
Antes de tentar “consertar” sua fé ou forçar uma espiritualidade que não está fluindo naturalmente, é essencial parar e encarar com honestidade o que está acontecendo dentro de você. Muitas vezes, não é a fé que desapareceu — é o coração que está ferido, exausto ou sobrecarregado por emoções não reconhecidas.
Pergunte a si mesmo com carinho: O que exatamente estou sentindo neste momento? Pode ser um cansaço emocional tão grande que até as práticas mais simples, como orar ou ler a Bíblia, parecem pesadas. Pode ser uma frustração com Deus, quando você esperava uma resposta que não veio, ou um milagre que não aconteceu. Pode ser mágoa com a igreja, com líderes espirituais ou com experiências religiosas que deixaram marcas dolorosas.
Talvez o que você esteja sentindo seja culpa — uma sensação de indignidade espiritual, como se você não fosse digno(a) de se aproximar de Deus. Ou até mesmo um trauma espiritual, fruto de julgamentos, palavras duras ou rejeições que vieram justamente de ambientes que deveriam acolher. Há ainda casos em que a tristeza profunda se transforma em apatia espiritual, e até a fé mais vibrante parece ter perdido o brilho.
Independentemente do que for, dar nome ao que está aí dentro já é um ato de cura. Quando você nomeia suas emoções, você tira o peso da alma e permite que Deus entre nesse lugar com luz e verdade. Não há dor que Ele não possa acolher. Não há confusão emocional que o Espírito Santo não possa traduzir em oração. Você não precisa esconder seus sentimentos de Deus — Ele é o único que conhece seu coração por inteiro e ama você mesmo assim.
Reconhecer sua dor não é fraqueza espiritual — é maturidade. E talvez, neste exato momento, a oração mais verdadeira seja simplesmente: “Senhor, eu não sei o que está acontecendo, mas eu quero Te encontrar no meio disso.” E essa, com certeza, Ele ouve.
3. Ore do jeito que você consegue — nem que seja em silêncio
Em tempos de fraqueza espiritual, até a oração pode parecer uma barreira. As palavras somem, o coração se cala, e parece que não há nada a dizer. Mas é justamente aí que mora uma das maiores verdades da vida com Deus: a oração mais poderosa não é a mais bonita ou bem articulada — é a mais sincera.
Orar não é uma apresentação, não é uma fórmula que você precisa acertar. É um espaço sagrado onde você pode ser inteiro, mesmo quando está despedaçado. É uma conversa com um Pai que entende suspiros, lágrimas e até o silêncio como linguagem. Quando a fé está enfraquecida, orar “do seu jeito” é suficiente. Mesmo que esse jeito seja apenas respirar profundamente e dizer, com a alma cansada: “Deus, eu não sei o que dizer, mas estou aqui.”
Se as palavras não vierem, tudo bem. Fique em silêncio. Coloque uma música suave, sente-se num canto do seu quarto, respire e permita que sua presença seja sua oração. Deus não está esperando grandes discursos — Ele só deseja o seu coração disponível. E quando você se coloca diante d’Ele, mesmo sem palavras, o Espírito Santo intercede por você com gemidos que não podem ser expressos (Romanos 8:26). Isso é oração. Isso é fé em meio à fraqueza.
Lembre-se: estar na presença de Deus, ainda que em silêncio, é estar orando. É se permitir ser acolhido, mesmo sem entender. É descansar na certeza de que Deus não exige força quando você não tem mais forças. Ele só quer você — exatamente como está.
4. Alimente sua fé com pequenos gestos diários
Muita gente acredita que a fé só volta através de grandes acontecimentos — um milagre, uma resposta sobrenatural, um culto marcante. Mas, na verdade, a fé é restaurada com pequenas sementes plantadas todos os dias, mesmo (e principalmente) quando você não sente vontade ou emoção alguma. É no simples, no pequeno e no silencioso que grandes recomeços começam.
Quando a fé parece frágil, os gestos diários se tornam o caminho de volta. Você não precisa esperar sentir algo profundo para buscar a Deus. Apenas abrir sua Bíblia e ler um único salmo, mesmo que pareça “vazio”, já é um ato de confiança. É como dizer: “Senhor, estou aqui. Não sinto, mas escolho.” E essa escolha é poderosa.
Você pode alimentar sua fé com gestos simples como:
- Escutar louvores ou músicas instrumentais que falem de paz, esperança e da presença de Deus — mesmo em silêncio, sua alma vai sendo tocada.
- Escrever em um caderno três pequenas coisas boas que aconteceram no seu dia. Pode ser um sorriso, um momento de descanso, uma lembrança boa — isso ajuda a sua mente a perceber que Deus continua agindo, mesmo nas entrelinhas.
- Criar o hábito de repetir afirmações de fé, como:
“Mesmo sem sentir, eu creio.”
“Deus está comigo neste processo.”
“A luz d’Ele brilha, mesmo quando meus olhos não enxergam.”
Essas frases se tornam âncoras espirituais em dias turbulentos.
Fé é como uma semente. Ela não brota no mesmo instante em que é plantada. Você rega com constância, mesmo quando não vê nada. E, um dia, sem aviso, brotam frutos onde antes só havia silêncio. O segredo está em continuar, em repetir, em manter o coração disponível. Deus vê cada pequeno gesto — e Ele honra o esforço de quem, mesmo sem sentir, decide permanecer.s.
5. Cerque-se de pessoas e ambientes que sustentem sua fé
A caminhada espiritual não foi feita para ser solitária. Quando a fé enfraquece, tentar enfrentar tudo sozinho(a) pode tornar o deserto ainda mais longo e mais árido. É justamente nesses momentos que você mais precisa estar cercado de ambientes e pessoas que carreguem fé — mesmo quando você não consegue carregá-la sozinho.
Apoio espiritual é um dos maiores presentes que Deus nos dá. Às vezes, tudo que você precisa é de um grupo de oração, uma célula, uma igreja com atmosfera acolhedora, ou até mesmo um amigo com maturidade espiritual que possa ouvir sem julgar e orar com você. Conversar com alguém que já atravessou esse mesmo vale pode trazer esperança real, prática e vivida. A fé dos outros nos fortalece quando a nossa está adormecida — e isso não é fraqueza, é sabedoria.
Além de pessoas, também é essencial ajustar os ambientes que te rodeiam. Ouvir mensagens edificantes, manter um devocional simples, colocar louvores suaves enquanto você faz tarefas rotineiras, assistir a testemunhos, consumir conteúdos que tragam luz — tudo isso ajuda a realinhar o seu interior ao que é eterno. Não subestime o poder da atmosfera: ambientes espiritualmente carregados de fé e amor regam sua alma mesmo quando você não percebe.
Lembre-se: Deus usa pessoas como pontes. Ele pode falar através de uma frase, um abraço, uma oração feita por alguém que nem conhece toda a sua história. Quando você se cerca da companhia certa, você não apenas é lembrado de quem Deus é — você é lembrado de quem você é Nele.
Não tente sustentar tudo sozinho. Abra espaço para ser acolhido. Às vezes, é a fé do outro que segura a nossa por um tempo — e tudo bem. Porque o Reino de Deus não é feito de heróis solitários, mas de irmãos e irmãs que se levantam uns pelos outros, até que todos consigam caminhar novamente.
6. Cuidado com a autocobrança espiritual
Quando nos sentimos distantes de Deus, é comum que a mente comece a alimentar uma cobrança silenciosa e pesada: “Eu deveria estar orando mais.” “Outros têm mais fé do que eu.” “Será que Deus ainda me ouve?” E assim, sem perceber, vamos nos afundando em culpa, vergonha e comparação — justamente o oposto do que Deus deseja gerar em nós.
Mas a verdade é que a fé não é uma disputa de desempenho espiritual. Deus não está fazendo uma competição celestial para ver quem ora mais bonito, quem sente mais arrepios, ou quem consegue manter o “devocional perfeito” todos os dias. O que Ele busca é algo infinitamente mais profundo: um coração sincero. Mesmo quebrado. Mesmo cansado. Mesmo confuso.
A autocobrança espiritual é uma armadilha sutil do ego, disfarçada de zelo. Ela te faz olhar para a jornada dos outros e se sentir insuficiente. Faz você esquecer que cada alma tem seu tempo, seu ritmo, seu modo de se relacionar com o sagrado. E mais: faz parecer que Deus só te ama quando você está “no auge” — mas o amor de Deus não muda com o seu desempenho. Ele continua sendo Pai nos dias de glória e nos dias de sombra. Ele continua presente, mesmo quando você não sente.
Por isso, respire. Solte o peso da comparação. Você não precisa estar forte para ser amado. Você só precisa estar disponível. Lembre-se: a cruz não foi erguida por causa da sua força, mas por causa da sua necessidade. Deus te ama exatamente agora, do jeito que você está — e é a partir desse amor, não da culpa, que a fé renasce.
7. Relembre experiências passadas com Deus
Nos momentos em que a fé parece ter desaparecido, uma das atitudes mais poderosas que você pode tomar é voltar à sua memória espiritual. Sim, sua alma tem memória. E ela se fortalece quando você decide lembrar — conscientemente — dos momentos em que Deus foi real, presente, cuidadoso e fiel com você.
Talvez hoje você não esteja sentindo nada. Mas já houve dias em que você orou e sentiu paz, mesmo sem explicação. Já houve momentos em que você recebeu uma resposta que só poderia ter vindo do alto. Houve livramentos, palavras que tocaram profundamente seu coração, situações que mudaram contra todas as probabilidades. Essas experiências não foram ilusões — foram sementes da presença de Deus em sua caminhada. E agora, elas podem ser âncoras que te sustentam em meio à tempestade.
Tire um tempo para escrever sobre esses momentos. Tenha um diário espiritual, mesmo que simples, onde você possa registrar as vezes em que orou e foi atendido, ou até aquelas em que, mesmo sem resposta, Deus te sustentou de pé. Volte a essas páginas quando a fé parecer distante. Releia suas próprias palavras. Relembre os sentimentos. Veja com os olhos do coração como Ele sempre esteve presente — mesmo nos silêncios.
Essas lembranças não são apenas memórias bonitas. Elas são alimento para sua fé hoje. Elas dizem: “Se Deus foi fiel ontem, Ele não mudou hoje.” Elas conectam o seu “agora vazio” com a plenitude que já foi vivida — e que pode ser restaurada. Porque a fidelidade de Deus não depende de como você se sente, mas de quem Ele é. E Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
8. Use a Palavra como remédio, mesmo sem “sentir”
Há dias em que abrir a Bíblia parece um gesto vazio. Você lê, mas não sente nada. As palavras parecem não tocar. O coração parece duro, distante. E, ainda assim, é justamente nesses momentos que a Palavra de Deus atua com mais profundidade — como um remédio que cura em silêncio.
Nem todo remédio tem sabor doce. Alguns são amargos, difíceis de engolir, mas têm o poder de restaurar o corpo. Com a Palavra de Deus é a mesma coisa: você não precisa “sentir algo” toda vez que lê. A transformação acontece mesmo quando não há emoção — porque a Palavra é viva, eficaz, e penetra nas áreas mais escondidas da alma, mesmo quando você não percebe.
Leia um versículo por dia. Medite, mesmo que sua mente pareça dispersa. Repita palavras de fé em voz alta, como sementes sendo lançadas no solo seco do seu coração. Declare versículos como orações, mesmo que sejam sussurradas. Aqui estão alguns exemplos que podem ser seu ponto de partida:
- “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo.” (Salmos 23:4)
- “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus.” (Salmos 46:10)
- “Senhor, aumenta a minha fé.” (Lucas 17:5)
- “Clamei ao Senhor na minha angústia, e Ele me respondeu.” (Salmos 120:1)
- “O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado.” (Salmos 34:18)
Se puder, escreva esses versículos e cole no espelho, na geladeira ou na capa do seu caderno. Mesmo quando sua alma não responde de imediato, seu espírito está sendo alimentado. E, com o tempo, você perceberá que algo dentro começou a mudar. Sem barulho. Sem pressa. Mas com profundidade e amor.
9. Aceite que o silêncio de Deus também fala
O silêncio de Deus pode ser um dos momentos mais desconcertantes da caminhada espiritual. Parece que oramos ao vazio. Que nossas lágrimas caem no chão sem resposta. Que estamos sozinhos em um deserto espiritual. Mas é nesse silêncio — que à primeira vista parece abandono — que Deus realiza algumas das obras mais profundas dentro de nós.
O silêncio de Deus não é ausência. É processo. É construção. É como o agricultor que planta a semente e, durante dias, não vê nada brotar na terra. Aparentemente, está tudo igual. Mas debaixo do solo, no invisível, a raiz está se formando, a vida está sendo preparada — e a colheita, inevitavelmente, virá. Assim é com sua fé.
Quando Deus silencia, Ele não te castiga — Ele está te treinando para confiar sem depender de provas visíveis. Ele está te amadurecendo para que sua fé deixe de ser uma emoção passageira e se transforme em convicção firme. Deus está ensinando que a fé verdadeira não precisa sentir para permanecer.
E o mais belo de tudo é que quando o sentir voltar — porque ele sempre volta — ele não será raso. Será mais forte. Mais profundo. Mais sólido. Você terá atravessado a noite escura e descobrirá que, mesmo em silêncio, Deus esteve contigo o tempo todo. Você não vai apenas acreditar que Deus existe — você vai saber, com todo o seu ser, que Ele é fiel mesmo quando não fala.
Aceitar o silêncio como parte da jornada é uma forma de maturidade espiritual. É confiar que mesmo calado, Deus continua trabalhando em seu favor. Às vezes, Ele está apenas esperando o ambiente interno estar pronto para receber o que você pediu. Outras vezes, está te ensinando que a presença d’Ele não depende de barulho, mas de verdade. E isso é um presente raro.
Conclusão
O que fazer quando não sente fé? Continue caminhando. Continue respirando. Continue escolhendo confiar. Não se cobre sentir tudo — apenas escolha não desistir.
Mesmo sem emoção, Deus está. Mesmo no silêncio, Ele age. Mesmo na dúvida, Ele ama.
E se tudo o que você conseguir hoje for dizer “Deus, eu ainda Te quero”, isso já é fé. E onde há fé, ainda que pequena como um grão de mostarda, há possibilidade de milagre.
Um passo de fé por dia
🌿 Se você está em um momento de fé fraca, comece pequeno. Tudo vai se alinhando.

